Conto Erótico - Nomes não importam - Carnelian

Conto Erótico - Nomes não importam

NOMES NÃO IMPORTAM

 

– Caramba, hoje já é dia 11 de junho! – pensou alto Pedro, no breu do quarto, por volta das nove da manhã, enquanto tentava desligar o alarme do celular que teimava em tocar pela terceira vez.

– Ahn? – murmurou Camila, meio sonolenta, meio confusa, ainda vestia seu tapa-olho de oncinha.

– Ops, desculpe, acho que falei meio alto, mas é que hoje é dia 11 e amanhã é dia 12 de junho. 

– E hoje é domingo, Pedro, vamos dormir mais um pouquinho?

– Tudo bem… bom, agora já acordei, vou lá comprar pão e deixar o café passando, ok?

Levantou-se da cama, calçou as havaianas do Flamengo, ligou a cafeteira e foi até a padaria. No caminho, começou a pensar na relação com Camila. Já estavam ficando há três meses: o sexo, cada vez melhor, as conversas, sempre profundas, já estavam até dormindo de conchinha no apê dela! Isso significava que ele havia alcançado o status de “ficante premium”? A proximidade com a data do dia dos namorados deixou Pedro um pouco ansioso. Ele, sendo homem, deveria pedir sua mão em namoro? Isso não seria antiquado demais para os tempos líquidos em que vivemos? Lembrou-se dos seus últimos relacionamentos. Na verdade, só havia namorado sério duas vezes. O primeiro durou seis meses, já o segundo durou o suficiente para falarem em casamento, apenas para depois desistirem quando as brigas começaram a se avolumar no convívio diário. No entanto, em todas as experiências, a iniciativa de mudar o status da relação partia das mulheres. Sempre. Ele apenas consentia, meio que para ver qual é. Seria assim tão importante para as mulheres nomear uma relação afetiva? Para algumas sim. Beyoncé tem razão então quando canta “If you liked it then you should have put a ring on it”? Seriam as mulheres esse prêmio para todos os que a tratarem bem? Mas... Camila era diferente.

“Desde que a gente se conhece ela não tocou no assunto. Parece estar apenas curtindo o momento. Verdade que já mencionou o seu ex algumas vezes e seus problemas morando juntos, a falta de afeto dele, mas nunca senti essa abertura nela”, pensava enquanto aguardava na fila da padaria a nova fornada fresquinha de pão francês.

Na real, ele estava caidinho por ela. Mandava mensagens todos os dias, falavam por telefone até às duas da manhã, não suportavam mais de quatro dias sem se ver. Ele já não ficava com mais ninguém, já nem conseguia manter os contatinhos, mas não disse isso a ela. Tinha medo de que ela se assustasse e metesse o pé.

***

Camila boceja alto, dá uma boa espreguiçada, ergue de leve o tapa-olho que ainda fica na testa e pega o celular. “O que tem dia 11 de junho, cacete?”, pensou, lembrando-se vagamente do tom assustado com que Pedro a havia acordado. “Ah já sei, o tal Dia dos Namorados! Putz, agora mais essa... será que o Pedro vai querer oficializar alguma coisa?”, questionava-se. 

A verdade é que ela já estava um pouco cansada desses rótulos e toda a pressão social que gira em torno dos relacionamentos. Ficar esperando um pedido oficial que, em geral, deveria partir dos homens? Estamos no século 21, né!? Apresentar para a família? Planejar casamento? Só de imaginar todas essas obrigações e afazeres já lhe dava dor de cabeça, mal conseguia levantar-se da cama. “Será que o Pedro vai puxar esse tema, já que ele é o romântico da relação? Gosto dele, não fico com mais ninguém, mas... sei lá. Eu vou dizer que não quero e pronto, já tenho problemas demais para resolver. Ainda mais depois de tudo que sofri com o Rafael!”

Camila havia terminado uma relação de seis anos há apenas quatro meses e há três conheceu Pedro. Não queria e não esperava se apaixonar assim tão depressa. Desejava aproveitar ao máximo sua vida de putari... quer dize, de solteira: baixou os aplicativos de relacionamentos, dançava até o chão nas festinhas de brasilidades, beijava muitos desconhecidos. Conheceu Pedro num nesses apps e a conversa bateu de primeira. Os dois curtiam as mesmas coisas, conversaram muito e a atração física era avassaladora. Ela se lembra até hoje do primeiro beijo entre os dois.

Estavam sentados descansando após dançar loucamente “O Show das Poderosas”, meio brincando e relembrando os velhos tempos desse sucesso do funk, em um bar com rooftop na Lapa. Era uma noite úmida e estrelada no Rio de Janeiro. Seguiam conversando de modo muito animado, bebendo drinks com gin, até que ela sentiu sua mão ser tocada de forma muito carinhosa. O assunto não era nada sexy. Falavam sobre a política econômica do novo governo e como seria difícil reverter todas as barbaridades deixadas pelo autocrata anterior. Mas aquele toque dizia alguma coisa. Parecia querer introduzir outro tópico na conversa. Foi suave e carinhoso. Ela não entendeu. Como estavam conversando sobre tudo, achava que seriam apenas bons amigos. Mas logo ele foi chegando mais perto, e mais perto. E um beijo aconteceu de forma tão natural como o ponto final ao fim desta frase. 

Depois daquela troca de carícias, tudo mudou e os dois sabiam que amizade é que não ia ser.

***

– Camis, cheguei!

Camila já tinha posto a mesa com talheres, manteiga e xícaras, como sempre fazia nas vezes em que Pedro saía para comprar pão. Era quase um ritual de domingo. Aproveitavam o café da manhã para conversar sobre várias coisas, era o momento em que os dois se tornavam mais íntimos.

– Ah, que mesa bonita! Hum, já tô sentindo até o cheirinho do café! 

– É tudo para você, querido! – comentou Camila, em um tom de voz meio brincando, como se ela fosse a recatada e do lar. Era uma piada interna entre os dois. Sim, eles já tinham até piadas internas.

– Nossa, assim me sinto especial, “meu amor”!

– Mas você é! Ontem me fez gozar seis vezes… – brincou Camila, com um sorriso safado no rosto.

– A foda foi foda, né? É incrível nossa conexão – disse ele, sentando-se à mesa.

– Haha, gostei do trocadilho! A cada dia você me descobre mais!

– É! Falando nisso… – começou mudando de tom.

– O que foi?

– Er… é que acho que combinamos muito, e eu gosto muito de você – disse, pegando em sua mão.

– Ai, fofinho, também gosto muito de você – disse ela, em tom lúdico, e bebericando o café quente.

– Então... acho que gosto tanto de você que, às vezes, me sinto... é difícil de explicar.

– Pode falar! Você pode confiar em mim. Gosto quando os homens expressam seus sentimentos. Definitivamente não conheci muitos assim.

Pedro respirou fundo, como se estivesse repassando o texto decorado em sua mente.

– Bom, gosto tanto de você que me sinto vulnerável – soltou num único suspiro. – Tenho medo de que... amanhã não possa mais te ver, ou que você não queira mais me ver, tenho medo de que me dê um ghosting, de que não fale mais comigo, de que me odeie. E nessa altura, acho que me envolvi demais, acho... que tenho medo de sofrer.

– Uau, por essa eu não esperava. Estava tudo bem ontem. Por que se sente assim hoje? Tem a ver com a data do dia 12?

– Não! Er, talvez tenha. Não sei, tem mais uma coisa. Não estou ficando com mais ninguém, só você.

– É... eu também só estou ficando com você – disse ela, sorrindo de lado.

– Isso significa que somos... namorados?

Camila ficou em silêncio por alguns minutos, tentando transparecer calma ao levar a xícara de café à boca e comer um pedaço de pão com manteiga. Sua cabeça estava a mil. 

– Vai dizer que quer namorar agora só por que está chegando o Dia dos Namorados? Só para ganhar presente?! Que interesseiro, haha – tentou disfarçar.  – Você sabe que o dia 12 de junho foi criado pelo publicitário João Dória para alavancar as vendas da loja em que trabalhava, né? Ou seja, é só mais uma data para estimular o consumismo nesse mundo capitalista de merda.

– Olha, não sabia dessa! Mas sim, é só uma data besta. E não, não quero presente. É que ela só me fez pensar em nós. Foda-se o Dória! – disse ele, ficando sério agora e olhando em seus olhos. – Eu só queria... não sei... ficar com você mais tempo?

“Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo...”, pensava. Respirou fundo e falou:

– Falando sério agora, olha, eu gosto muito de você...

– Mas?

– Me escuta, poxa! Gosto muito de você, mas não sei se quero namorar agora. Na verdade, acho todo esse rolê de namorados muito brega, não precisamos nomear ou classificar o que temos. Hoje em dia são tantas as possibilidades, não é?

– É, mas você namorou por seis anos antes.

– Sim, mas… eu também tenho medo de perder o que temos, o que já é muita coisa, por causa de um simples nome. As palavras têm poder. Infelizmente, não me sinto preparada para ser... a namorada entre aspas de alguém – as últimas palavras saíram quase que num engasgo.

Pedro olhou para o chão, visivelmente abalado.

– Tudo bem, eu entendo. De boa. Vou tirar a mesa, tá?

– Eu ajudo.

***

O cheiro do restinho de café na cafeteira vermelha ainda ligada. A louça acumulada do jantar de ontem. As taças de vinho com marcas de batom sobre a pia de mármore marrom escuro.

Camila deixa as xícaras sobre a pia e para.

Pedro leva os talheres em seguida e para.

Naquele exato momento, os dois pensavam no que dizer, mas nenhuma palavra conseguiu fugir da prisão de suas bocas. O silêncio parecia ter engolido todo o som.

Os dois, ali, lado a lado. Seus ombros se tocam.

Pedro olha para o lado. Ela também o encara. Ele agarra a cintura de Camila com a mão direita trazendo-a para próximo de si e começa a beijar sua nuca. 

Com beijos vorazes, quase violentos, ele abria os lábios com força e fechava com os dentes, como em uma mordida. A mão que estava na cintura subiu para o cabelo dela. Um puxão a fez virar o rosto para cima, pronta para receber mais mordidas em seu pescoço. Soltou um suspiro.

As mãos dele já alcançam seus seios por cima do vestido de seda vermelho que usava para dormir. Acariciava seus mamilos por cima da seda de forma bem sutil. Seus dedos podiam sentir aquele coração batendo mais rápido. E os mamilos ficando ligeiramente durinhos.

Suas mãos desciam por seu corpo em ritmo lento, passando pela lateral de sua bunda até as suas coxas. Agora ela sentia apenas o toque macio da pontinha de seus dedos subirem por seu corpo.

No silêncio da cozinha irrompeu apenas sua respiração cada vez mais ruidosa.

Ele tira sua calcinha de rendinha branca com as pontas dos dedos e se abaixa. Fica de joelhos. Agarra suas nádegas com as mãos abertas e começa a beijá-las apaixonadamente. Camila lembrou como Pedro venerava seu bumbum. Lembrou-se do jeito cafajeste com que ele sempre o olhava, de soslaio e com um sorriso rosto que denunciava suas intenções.

Agachado no chão da cozinha, ele lambia e abocanhava cada banda do seu traseiro. Aqueles dedos largos tocam a sua buceta, que escorria de forma receptiva. O indicador ia e voltava por toda a sua vulva. Ela gemia de prazer. Ele a puxou para baixo. 

Sentados no azulejo frio da cozinha, ele segurou seu rosto pelo lado e chegou mais perto. Seus olhos cor de mel a encararam.

–  Pedro, olha, eu...

– Shiii –  fez ele com um biquinho sexy e colocando o indicador entre os lábios dela.

Pedro deu um suspiro próximo à sua boca. Ela podia sentir a lufada quente entrando pelos lábios e tocando a sua língua como uma brisa de verão. Não resistiu.

Com as duas mãos, ela segura seu pescoço rígido e o beija suplicamente como se sua vida dependesse daquele beijo. Cheia de tesão, ela tira a camiseta dele num só movimento. Desabotoa a sua bermuda. Tocando o botão, ela sente algo pulsante acalorado ali dentro.

Toca o pênis rijo. Louca de desejo, tira também seu vestido de dormir por cima. Seus seios caem lentamente. Pedro a contempla em toda a sua beleza. Suas curvas eram delineadas pela luz fraca da manhã.

– Gostosa!

E a beija novamente. Um beijo molhado, demorado, suado. Ele a toma pela cintura com seu antebraço grande e malhado, e a gira para que ela fique embaixo dele. 

Nua no chão branco e frio da cozinha, em cima de um tapete colorido que havia comprado em uma feirinha de antiguidades, ele a comia. A cada estocada, Camila soltava um gemido de prazer. Por cima, beijava seu pescoço, e ela apenas via o teto branco da cozinha se mexer em idas e vindas.

Segura suas pernas no ar e a penetra em ritmo mais lento agora. Com uma das mãos ele acaricia seu seio direito. Em seguida, seu polegar alcança seu clitóris e fica parado ali. Não precisa nem mexer. O movimento faz todo o trabalho. E Camila goza deliciosamente.

Ao gritar de prazer, ela joga os braços esticados para cima.

Ele pega um pano de prato branco largado na pia.

–  Tô tendo uma ideia.

Ele amarra os braços dela atrás de sua cabeça. Agora ela estava presa. E era sua presa. 

Ela passa a língua entre os lábios e dá um sorrisinho safado

Ela vira de bruços e com os braços amarrados bem firmes pelo pano de prato, Pedro a penetra de costas. Ele a penetra em seus sons, aromas e gostos mais suaves. Sim, ele a penetra em sua alma. Um conexão e uma trepada dessas não se acham em qualquer esquina.

– Como é bom te ver assim, só minha, minha gata, minha presa.

Ele segura com as suas mãos a bunda dela. Ela olha para a frente. Vê seu fogão. Vê sua máquina de lavar ao fundo. Sente o cheiro forte da ração de gato. E aquela sensação maravilhosa de ter seu corpo todo estremecendo. Tremendo. Arrepiando. Cada. Vez. Mais.

-– Ah, Ah, vou gozar de novo!

–  Eu também!

E os dois soltam juntos mais um gemido de alívio e prazer.

Pedro deita-se lado dela. Em sua testa escorre gotas de suor. Ele respira fundo.

Ela, de bruços, ainda sem entender o que havia acontecido. 

Até que ele falou:

– Uau!

– Uau duas vezes!

– Como nomear o que aconteceu aqui?

– É, difícil – respondeu ela, e olhou para cima, pensativa.

– Sabe, você tem razão não precisamos nomear nada. As palavras não conseguem descrever o que sinto. Mesmo se conseguissem, falhariam miseravelmente. Eu te amo – era a primeira vez que ele falava isso para ela. – Só quero estar perto de você. E não importa essa coisa do nome.

– Ai, meu amor, também te amo muito! Nomes não importam. É por isso que quero te perguntar uma coisa.

– Diga.

– Posso ser sua namorada?

 

@marianakleinkontos

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